As sacolas
arrebentaram na garagem do prédio, enquanto ela tirava as compras do
porta-malas, compras que fez entre o deixar os filhos na escola e a reunião que
teria em trinta minutos com um cliente importante. E em meio a pacotes de sabão
em pó, detergente, alvejante sem cloro e cera incolor, ela viu espalhados suas
noites sem dormir, as contas que não param de se acumular na mesa de jantar,
seus sonhos, seu amor cansado da rotina, o choro e a birra das crianças, seus
livros e artigos não escritos, sua busca pelo silêncio, sua vontade de pisar
numa areia deserta, as crianças mortas na Síria. E foi socorrida pelo porteiro, que lhe pediu para levantar e enxugar as lágrimas.
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