Era uma mulher
que não conseguia segurar as tachinhas dos brincos, de forma que na hora de
colocá-los ou tirá-los sempre perdia pelo menos uma delas. E elas se escondiam
nos vãos dos tacos, adentravam pelos fios dos tapetes, rolavam pelo sifão,
caíam pelos ralos, se refugiavam atrás dos móveis, e os brincos não se
constituíam mais de pares. Foram ficando isolados, jogados pelos cantos,
tristes. Algumas tentativas de misturar tachinhas foram frustradas, além da
vergonha que ela sentia se alguém conseguisse ver suas orelhas por trás: uma
tachinha delicada de prata ao lado de uma tosca de plástico. E assim ela
desistiu dos brincos, já que os de pressão lhe provocam dor de cabeça. Mas ela
ainda não sabe se suas mãos é que são escorregadias ou se as tachinhas é que
são indomáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário