sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Onde a verdade não consegue se esconder


Como faz todas as manhãs, o homem mulato e de forte constituição está sentado num banco da Praça Roosevelt, vestindo chapéu Panamá, fumando charuto e gritando num celular que deve conectá-lo a ninguém que “tudo vai virar bosta”. O casal que aparenta meia-idade e consegue colocar todos seus pertences em dois carrinhos de feira toma café da manhã: pão com manteiga e suco de laranja em pó, numa garrafinha de água mineral. A jovem negra com rosto que parece ter sido desenhado por exímio artista tenta fixar os olhos em algo ou alguém, mas é impedida pelas drogas. O estrangeiro sai da locadora de automóveis com aquele rosto encantado que têm os turistas quando chegam ao centro de São Paulo. O centro tem cores e sons que atordoam, o centro fede. Em muitos lugares da cidade é possível esconder essas verdades, de que todos viraremos bosta, todos queremos alguém para dividir o café da manhã e todos temos os olhos perdidos e amedrontados. O centro é mais do que feiura. É o lugar onde a verdade é jogada na cara como um tapa com a mão aberta. Por isso é tão difícil encará-lo. E por isso é tão necessário.

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