Como faz todas
as manhãs, o homem mulato e de forte constituição está sentado num banco
da Praça Roosevelt, vestindo chapéu Panamá, fumando charuto e gritando num
celular que deve conectá-lo a ninguém que “tudo vai virar bosta”. O casal que
aparenta meia-idade e consegue colocar todos seus pertences em dois
carrinhos de feira toma café da manhã: pão com manteiga e suco de laranja em
pó, numa garrafinha de água mineral. A jovem negra com rosto que parece ter
sido desenhado por exímio artista tenta fixar os olhos em algo ou alguém, mas é
impedida pelas drogas. O estrangeiro sai da locadora de automóveis com aquele
rosto encantado que têm os turistas quando chegam ao centro de São Paulo. O
centro tem cores e sons que atordoam, o centro fede. Em muitos lugares da
cidade é possível esconder essas verdades, de que todos viraremos bosta, todos
queremos alguém para dividir o café da manhã e todos temos os olhos perdidos e
amedrontados. O centro é mais do que feiura. É o lugar onde a verdade é jogada
na cara como um tapa com a mão aberta. Por isso é tão difícil encará-lo. E por isso é tão necessário.
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