Porque os
semáforos quebraram, a luz interna de todos os motoristas esverdeou e eles
foram, sem atenção, uns por cima dos outros. Ninguém agora nos impede de ir,
eles pensavam, com ponto de exclamação no final. Estamos livres das ordens dos
semáforos, eles gritavam em silêncio. Todos apressados, a mulher com o filho
no banco de trás, o taxista, o médico, o executivo, a bancária, o professor nem
tanto porque estava de férias, mas é o costume. E não estar apressado, numa
cidade como São Paulo, coloca o cidadão numa classe inferior. Quase a escória.
Tantos coelhinhos brancos com seus relógios no bolso. E foram todos juntos e ao
mesmo tempo, com suas luzes verdes acesas, num movimento concêntrico, batendo
seus carros uns contra os outros. E numa gritaria em que ninguém se entendia,
eles foram sumindo, praguejando, xingando, berrando, a criança chorando, cada
qual com seu prejuízo, porque tinham pressa.
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