segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

É tarde e a luz está verde


Porque os semáforos quebraram, a luz interna de todos os motoristas esverdeou e eles foram, sem atenção, uns por cima dos outros. Ninguém agora nos impede de ir, eles pensavam, com ponto de exclamação no final. Estamos livres das ordens dos semáforos, eles gritavam em silêncio. Todos apressados, a mulher com o filho no banco de trás, o taxista, o médico, o executivo, a bancária, o professor nem tanto porque estava de férias, mas é o costume. E não estar apressado, numa cidade como São Paulo, coloca o cidadão numa classe inferior. Quase a escória. Tantos coelhinhos brancos com seus relógios no bolso. E foram todos juntos e ao mesmo tempo, com suas luzes verdes acesas, num movimento concêntrico, batendo seus carros uns contra os outros. E numa gritaria em que ninguém se entendia, eles foram sumindo, praguejando, xingando, berrando, a criança chorando, cada qual com seu prejuízo, porque tinham pressa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário