quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Torpedos


Não foi sem aflição que ela se olhou no espelho. Alguns fios de cabelos brancos em meio a tantos louros, olhos que começavam a ansiar pelo descanso – quando, afinal, pode-se começar a viver o sonho?, o batom vermelho aposentado desde o dia em que ele falou que ela parecia uma puta – e toda mulher não quer ser puta?, o lápis de olho que derretia no meio da tarde, o rímel que borrava a pálpebra, a base que não disfarçava mais as imperfeições – porque estas se tornaram maioria em seu rosto, o espelho que todos os dias lhe dizia que ela nunca mais seria tão jovem quanto hoje. E no celular um torpedo do chefe lembrando que ela estava atrasada.

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