Não foi sem
aflição que ela se olhou no espelho. Alguns fios de cabelos brancos em meio a
tantos louros, olhos que começavam a ansiar pelo descanso – quando, afinal,
pode-se começar a viver o sonho?, o batom vermelho aposentado desde o dia em
que ele falou que ela parecia uma puta – e toda mulher não quer ser puta?, o
lápis de olho que derretia no meio da tarde, o rímel que borrava a pálpebra, a
base que não disfarçava mais as imperfeições – porque estas se tornaram maioria
em seu rosto, o espelho que todos os dias lhe dizia que ela nunca mais seria
tão jovem quanto hoje. E no celular um torpedo do chefe lembrando que ela
estava atrasada.
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