Ela nem sabia
que era o dia da saudade, nem que a saudade tinha um dia, já que ela chega sem
avisar, em qualquer dia de qualquer mês de qualquer ano, sem escolher a hora, e
às vezes vai embora, às vezes não - fica para sempre, guardada numa das fibras
do coração, ou dentro do estômago, ou atravessada na garganta. Pode até se
encravar no dedão do pé, ou da mão. Acontece também de se enroscar nas
pálpebras, provocando lágrimas. Para ela não fazia diferença. Todos os dias
acordava com uma saudade: de ontem, dela mesma, do filho que cresceu, de uma
paixão que acabou, do marido que viajou, do gosto do fusilli com queijo brie e
abobrinhas italianas, de um sorvete no meio da tarde, dos personagens da
Trilogia do Cairo. Ah, tantas.
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